
A deflagração da Operação Galho Fraco pela Polícia Federal nesta sexta-feira (19) aprofunda o desgaste do PL na Câmara dos Deputados e ajuda a desenhar um cenário de desidratação da bancada bolsonarista para a próxima legislatura. A ação mira assessores dos deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy (ambos PL-RJ), suspeitos de operar um esquema de desvio de cotas parlamentares por meio de contratos falsos com locadoras de veículos.
Relatório parcial da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal aponta movimentações consideradas suspeitas que somam R$ 28,638 milhões em contas de assessores de gabinetes de Sóstenes e Jordy, além de funcionários do PL e outras pessoas próximas aos parlamentares, sem justificativa compatível com a renda declarada. O documento, que teve o sigilo levantado nesta sexta-feira pelo ministro Flávio Dino, serviu de base para a Operação Galho Fraco, da qual os dois deputados são alvos formais.
Autorizada por Dino com aval da Procuradoria-Geral da República, a operação cumpriu sete mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, incluindo buscas pessoais, veiculares e em imóveis ligados aos parlamentares. Em um dos endereços associados a Sóstenes, líder do PL na Câmara, agentes encontraram cerca de R$ 400 mil em dinheiro vivo. O esquema usaria locadoras de fachada para escoar a verba de gabinete destinada à contratação de frota, emitindo notas frias ou superfaturadas para serviços inexistentes. Nas redes sociais, Jordy reagiu acusando Dino de “perseguição implacável” e negando qualquer irregularidade, enquanto a defesa de Sóstenes ainda não havia se manifestado até o fechamento deste texto.
Até o momento, as medidas se limitam a buscas, apreensões e quebras de sigilo, sem prisão ou afastamento de mandato, o que mantém o funcionamento formal da bancada, mas aprofunda o desgaste da principal liderança do PL no plenário.
Três cassações em série
A ofensiva policial ocorre poucos dias depois de a Câmara declarar a perda de mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), em cumprimento a decisões do STF que levaram ambos ao regime fechado e motivaram o enquadramento por excesso de faltas com base no artigo 55 da Constituição. No caso de Carla Zambelli (PL-SP), a Primeira Turma do STF manteve por unanimidade a cassação de seu mandato, anulando a tentativa da maioria da Câmara de poupá-la.
Na prática, o PL já perdeu três cadeiras desde a eleição de 2022, quando elegeu 99 deputados federais, sua maior bancada da história. Suplentes assumiram as vagas, o que preserva o número formal de cadeiras, mas esvazia o núcleo duro do bolsonarismo, que tinha em Eduardo, Zambelli e Ramagem alguns de seus quadros mais visíveis e radicalizados.
No curto prazo, a operação não retira votos da bancada, que segue apta a participar de sessões-chave, como a convocada para esta sexta-feira (19), que inclui a PLOA 2026 e outros projetos orçamentários na pauta conjunta do Congresso. O impacto é predominantemente político pois Sóstenes, que é responsável por orientar o voto da maior bancada da Casa, passa a atuar sob suspeita, tendo parte do Centrão e de outros partidos avaliando sua capacidade de articulação em meio ao escândalo. A sucessão de cassações e investigações também fragiliza a autoridade do PL para liderar a oposição ao governo, abrindo espaço para rearranjos de poder em torno de siglas como Republicanos e PP.
Encolhimento em 2027
Além das três cadeiras já perdidas, o PL entra no próximo pleito sob o peso de dezenas de inquéritos que miram parlamentares por desvio de emendas, uso irregular de cotas e relações com facções criminosas, em investigações monitoradas pela Procuradoria-Geral da República. Parte desses processos pode resultar em condenações e inelegibilidade com base na Lei da Ficha Limpa e fechar o caminho da reeleição para nomes-chave do bolsonarismo.
No ano que vem, o STF deve julgar, por exemplo, ações contra deputados do PL como Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil e Bosco Costa por suposto desvio de emendas da saúde no Maranhão, com possibilidade de perda de mandato e proibição de disputar as próximas eleições. O contraste entre o discurso expansionista da cúpula do PL e a realidade das cassações e investigações indica que o partido deve chegar à próxima legislatura com uma bancada menor. Esse enfraquecimento pode reduzir a capacidade do bolsonarismo de influenciar a escolha do próximo comando da Casa e de impor sua agenda no legislativo.

