Erro
  • Erro ao carregar arquivo XML
  • http://www.blogdobepe.com.br/templates/sj_tech/templateDetails.xml
  • XML: failed to load "http://www.blogdobepe.com.br/templates/sj_tech/templateDetails.xml": No such file or directory

O desmonte silencioso que envenenou o mercado de bebidas no Brasil

Out 02, 2025

Por Luis Nassif, no GGN                                                                                   

Foto: Reprodução                                                                             

Às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, Brasília se tornava o epicentro de uma movimentação intensa de lobistas. A saída da presidente, conhecida por sua rigidez ética, e a ascensão de Michel Temer, mais flexível aos interesses do mercado, criaram o ambiente ideal para negociações obscuras. Foi nesse contexto que, em dezembro de 2016, se consumou um dos golpes mais silenciosos e letais contra a saúde pública e a arrecadação fiscal: a extinção do Sicobe, sistema de controle da produção de bebidas.

A decisão, tomada por Henrique Meirelles, então Ministro da Fazenda, e Jorge Rachid, Secretário da Receita Federal, abriu caminho para a proliferação de bebidas falsificadas — muitas delas com substâncias tóxicas — e para a evasão bilionária de tributos. Hoje, quase uma década depois, começam a surgir os primeiros casos de mortes diretamente ligadas ao consumo dessas bebidas adulteradas.

O que era o Sicobe

Implantado em 2008, o Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas) era uma tecnologia de rastreamento em tempo real. Cada fabricante era obrigado a instalar equipamentos homologados que registravam digitalmente cada garrafa ou lata produzida. Os dados eram enviados diretamente à Receita Federal.

 O sistema permitia:
  • Vincular produção à tributação (IPI, ICMS);
  • Detectar variações suspeitas na produção;
  • Rastrear insumos estratégicos (malte, açúcar, embalagens);
  • Identificar bebidas falsificadas com precisão.

Era, portanto, uma ferramenta eficaz contra sonegação e adulteração — inclusive contra o uso de substâncias perigosas como o metanol.

Mas, por conta de seu custo, era também um fator de concentração de mercado, já que inacessível para empresas menores.

O lobby contra o controle

As grandes fabricantes alegavam que o sistema gerava custos operacionais elevados e criava dependência da empresa suíça SICPA, responsável pelos equipamentos. Jorge Rachid comprou esse discurso e defendeu que a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) seria suficiente para rastrear a produção.

Por outro lado, a necessidade de adquirir o equipamento acabava restringindo o mercado para as pequenas empresas. Acabava sendo um fator de concentração.

O argumento oficial era que o “controle digital moderno”, baseado em Big Data tributário, substituiria os sensores físicos. Mas havia um problema evidente: o novo sistema dependia exclusivamente das informações declaradas pelas empresas — abrindo espaço para subdeclarações e fraudes.

O desmonte e suas consequências

O Tribunal de Contas da União chegou a questionar a contratação da SICPA sem licitação. Embora o problema fosse corrigível, serviu de pretexto para a extinção do Sicobe.

O resultado foi imediato:

  • Explosão do mercado informal de bebidas;
  • Aumento expressivo da evasão fiscal;
  • Retorno da sonegação a níveis pré-2008.

Segundo o ETCO (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial), até 30% do mercado de bebidas voltou à informalidade em alguns segmentos. A União passou a perder bilhões de reais por ano em tributos.

A cronologia da evasão

Antes de 2008: evasão no setor de bebidas girava em torno de 35%;

Com o Sicobe (2008–2016): caiu para cerca de 10%;

 Após a extinção (2016–2025): voltou a subir, chegando a quase 30%.

Agora, além da perda fiscal e da concorrência desleal, começam a surgir os casos de mortes causadas por bebidas adulteradas — consequência direta da desregulamentação promovida por Meirelles e Rachid.

Um crime de Estado?

Especialistas em segurança pública e tributária poderiam perfeitamente classificar o episódio como um possível crime de Estado. Afinal, por trás da decisão técnica, havia um lobby poderoso influenciando políticas públicas.

Mídia

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


Anti-spam: complete the task

Vídeos