Queimada e vista em meio a área de floresta próximo a capital Porto Velho. Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real.
Entre janeiro e março de 2025, o Brasil registrou uma das maiores quedas na área queimada dos últimos anos: 912,9 mil hectares atingidos pelo fogo, segundo o Monitor do Fogo, plataforma do MapBiomas. A cifra representa uma redução de 70% em relação ao mesmo período de 2024 — quando os incêndios ultrapassaram 3 milhões de hectares — e demonstra o impacto de medidas emergenciais e estruturantes adotadas pela gestão Lula para conter o desmatamento e as queimadas ilegais.
A mudança de cenário não é fruto do acaso. A reversão drástica nos números está diretamente relacionada ao fortalecimento da fiscalização ambiental, com aumento de operações do IBAMA e ICMBio, e à retomada de políticas públicas de monitoramento por satélite e parcerias com instituições científicas. Além disso, a articulação com estados e municípios permitiu maior capilaridade na resposta a focos de calor, especialmente na Amazônia.
Amazônia lidera área queimada, mas com forte retração
Apesar da queda expressiva nos números, a Amazônia ainda concentrou 84% da área queimada no trimestre, totalizando 774,5 mil hectares. Estados como Roraima (415,7 mil ha), Pará (208,6 mil ha) e Maranhão (123,8 mil ha) responderam por 81% de toda a área queimada no país.
Segundo o pesquisador Felipe Martenexen, do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), o protagonismo de Roraima se deve a um fator climático. “Enquanto a maior parte do Brasil está em seu período chuvoso, Roraima atravessa sua estação seca, o que aumenta a vulnerabilidade do estado às queimadas nesse período”, explica.
Ainda assim, a redução de 72% nas queimadas da Amazônia em relação a 2024 revela um ganho estratégico no controle do fogo, mesmo em áreas de maior risco climático e histórico de desmatamento.
Cerrado preocupa: aumento das queimadas acende alerta para políticas específicas
Na contramão da tendência nacional, o Cerrado apresentou aumento de 12% na área queimada no primeiro trimestre, totalizando 91,7 mil hectares. Em março, o bioma registrou 37,8 mil hectares queimados, valor 80% superior à média histórica do mês.
“O Cerrado exige um olhar específico. A redução das queimadas em outros biomas não pode esconder o fato de que estamos vendo ali uma pressão crescente por expansão agropecuária e fragilização dos sistemas de prevenção ao fogo”, afirma Vera Arruda, pesquisadora do IPAM.
Mais da metade da área queimada no Cerrado em março estava em áreas de uso agropecuário, indicando que os incêndios podem estar ligados a práticas de manejo ou uso inadequado do fogo em pastagens e cultivos.
Reduções expressivas nos demais biomas: Pantanal e Mata Atlântica dão sinais positivos
Além da Amazônia, o Pantanal também apresentou números animadores: apenas 10,9 mil hectares foram queimados no trimestre, representando uma queda de 86% em relação ao mesmo período de 2024. Em março, o bioma teve apenas 561 hectares atingidos, reflexo direto de maior controle e vigilância.
A Mata Atlântica registrou 18,8 mil hectares queimados, com maior impacto em áreas agropecuárias (82,5%). Já a Caatinga teve 10 mil hectares queimados (queda de 8%) e o Pampa, embora tenha apresentado aumento de 1.487% no trimestre (6,6 mil hectares), partiu de uma base histórica muito baixa.
Março consolida tendência de queda, mas estação seca preocupa especialistas
O mês de março concentrou 106,6 mil hectares queimados, o equivalente a 10% do total no ano até agora — 86% a menos do que o registrado em março de 2024. A maior parte da área atingida segue sendo de vegetação nativa (68,6%), com destaque para formações campestres, principalmente nos estados do Norte e Centro-Oeste.
Mesmo com a queda histórica, especialistas como Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM, alertam para os riscos da temporada seca que se aproxima:
“A redução expressiva da área queimada na Amazônia é uma boa notícia. Entretanto, é importante entendermos que a estação seca de 2025 possivelmente ainda será forte, o que pode reverter essa condição de redução.”
MapBiomas Fogo e o papel do monitoramento em tempo quase real
O Monitor do Fogo, desenvolvido pelo MapBiomas desde 2019, é uma das principais ferramentas para compreender a dinâmica das queimadas no Brasil. Utilizando imagens de satélite com resolução de 10 metros, o sistema oferece dados públicos, atualizados mensalmente, que subsidiam ações preventivas e repressivas.
Ao tornar essas informações acessíveis à sociedade civil, imprensa, gestores públicos e cientistas, o sistema fortalece a transparência ambiental e a capacidade de resposta rápida diante do avanço do fogo em áreas sensíveis.
Entre conquistas e desafios, política ambiental volta ao centro da agenda
A queda histórica nas queimadas nos primeiros meses de 2025 marca um ponto de virada na política ambiental brasileira. O esforço coordenado do governo Lula, aliado ao uso de tecnologia e à reestruturação de instituições ambientais, aponta para uma mudança de paradigma na gestão do fogo.
No entanto, os dados do Cerrado, o início da estação seca e a pressão do agronegócio sobre áreas nativas demonstram que a luta contra as queimadas está longe de ser vencida. A continuidade das ações, o fortalecimento da fiscalização e a definição de políticas diferenciadas por bioma serão essenciais para garantir que a tendência de queda se mantenha ao longo do ano.