
Zohran Mamdani, o candidato democrata-socialista de 34 anos, foi eleito o 111º prefeito de Nova York na noite de terça-feira (4/11), marcando uma vitória histórica que ressoa em toda a política americana.
Mamdani não é notável apenas por ser o prefeito eleito mais jovem da cidade desde 1892. Ele também se torna o primeiro prefeito muçulmano, o primeiro prefeito do sul da Ásia e o primeiro prefeito nascido na África a ocupar o cargo.
Trajetória política e plataforma
Nascido em Kampala, capital de Uganda, Mamdani é filho de pais de origem indiana e mudou-se para Nova York com sua família aos 7 anos. Ele se tornou cidadão americano em 2018.
Sua trajetória política começou com a eleição para deputado estadual em 2021 pelo bairro de Astoria, no Queens. Ao lançar sua campanha para a prefeitura, ele era uma figura relativamente desconhecida, com pouco dinheiro e sem o apoio institucional do Partido Democrata.
Mamdani se descreve como um socialista democrático. Sua campanha, impulsionada por doações de pequeno valor, milhares de voluntários e uma presença notável nas redes sociais, concentrou-se fortemente em questões de acessibilidade e custo de vida.
Sua ambiciosa plataforma incluía:
- Congelamento de aluguéis em unidades estabilizadas.
- Construção de mais moradias populares.
- Aumento do salário mínimo para US$ 30 por hora.
- Gratuidade dos ônibus.
- Apoio a creches gratuitas e expansão do transporte público.
- Aumento de impostos sobre os residentes mais ricos (milionários) para financiar programas sociais.
Mamdani é politicamente alinhado com o senador Bernie Sanders e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez. Ele demonstrou uma capacidade de focar em questões econômicas essenciais para a classe trabalhadora, sem renegar princípios culturais da esquerda.
A disputa eleitoral e os votos
A vitória de Mamdani é notável por ter ocorrido sobre um forte establishment político.
Seus principais adversários na eleição geral foram o ex-governador de Nova York, Andrew Cuomo, que concorreu como candidato independente após ser derrotado por Mamdani nas primárias democratas; e o candidato republicano Curtis Sliwa, além do atual prefeito Eric Adams, que concorria como independente, abandonou a disputa em setembro.
Mamdani garantiu a vitória com mais de 50% dos votos. Andrew Cuomo ficou em segundo lugar, com pouco mais de 40%, enquanto Curtis Sliwa recebeu pouco mais de 7% dos votos.
A eleição contou com uma participação recorde, com mais de 2 milhões de votantes, o maior número desde 1969.
O significado para a esquerda e a política americana
A vitória de Mamdani gerou enorme atenção da mídia, talvez mais do que qualquer outra eleição municipal na maior cidade dos EUA. Ela representa um triunfo para a ala esquerda do Partido Democrata.
Ao derrotar Cuomo, que representa a elite democrata tradicional, Mamdani venceu o establishment democrata que muitos na esquerda consideravam desconectado da base do partido e da nação.
A campanha de Mamdani inspirou mais de 10 mil progressistas em todo o país a considerarem concorrer a cargos públicos. No entanto, ele enfrentará intensa oposição. Conservadores, incluindo o ex-presidente Donald Trump, tentaram pintá-lo como uma “ameaça socialista” ou “comunista”, cujas políticas poderiam levar a maior cidade dos EUA à ruína. Trump chegou a ameaçar cortar fundos federais caso Mamdani vencesse.
Apesar dos ataques e da sua agenda ambiciosa, sua vitória, juntamente com as vitórias democratas centristas em Virgínia e Nova Jersey, sugere que o Partido Democrata tem espaço para “todos os tipos de pontos de vista”. Mamdani insiste que o que une o partido é lutar para servir “os trabalhadores”.
Sua administração em Nova York será minuciosamente analisada como um exemplo nacional de governança liberal, e ele terá que navegar pelas limitações do poder de prefeito e pela oposição de líderes democratas mais centristas, como a governadora Kathy Hochul, que se opõe ao aumento de impostos necessário para financiar sua agenda. Mamdani terá de se dedicar agora à tarefa de se definir publicamente antes que seus oponentes o façam.
Com informações de BBC, The Guardian e Agência Brasil

