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Uma análise da estrutura de consumo da Argentina dá uma ideia clara da concentração de renda, após os choques de Milei. Vamos conferir, a partir de levantamentos feitos pelo diário El País.
1 - Bens essenciais (alimentos, medicamentos)
- Nas classes média e alta houve uma expansão, devido à alta dos salários reais (62,5% no 1º semestre, acima da inflação).
- Nos setores vulneráveis, queda de consumo de itens básicos e aumento da dependência de redes de apoio social.
2 - Bens duráveis
- Venda de carros cresceu 82% no semestre, mas concentrada em consumidores urbanos de renda média-alta, as chamadas ilhas de prosperidade.
3 - Serviços (turismo, lazer)
- Explodiu o turismo internacional, aumento de voos para Miami, Madri e outros destinos de elite, devido ao peso mais caro
- O setor gastronômico urbano também vem se beneficiando, nos restaurantes voltados para o público de alta renda.
Por classe social, o quadro fica assim:
Baixa renda (metade da população) – restrição severa, com queda no consumo de alimentos, roupas e remédios, grande parte não conseguindo chegar até o final do mês. Substituição de carne bovina por frango ou massas e maior dependência de ajuda estatal ou comunitária. E desemprego subindo para 7,9%;
Classe média – recuperação parcial dos salários, que cresceram 62,5% contra inflação de 39%, permitindo retomada de bens duráveis e consumo digital. Como o reajuste do salário leva em conta a inflação passada, em caso de queda da inflação, há aumento real.
Elites urbanas – explosão de consumo em carros novos, restaurantes lotados e turismo internacional.
Autor do livro “Classe Média: Mito, Realidade ou Nostalgia”, o consultor Guillermo Oliveto, alerta que as duas pontas da pirâmide social estão cada vez mais distantes. 30% da população aproveita ou conseguiu se acomodar no modelo econômico. Mas na classe média baixa informal e na classe baixa não pobre, sobressai a cultura do “não”: sem dinheiro, sem marcas famosas, sem prêmios, sem passeios e com o mês terminando no dia 20.
Segundo a consultoria Moiguer, 50% das pessoas têm renda insuficiente para cobrir as despesas do mês e 30% precisam adiar ou cancelar despesas para pagar por serviços.